Na noite do último sábado, 5, no Bistrô da Bárbara, em Fortaleza, foi lançado o Papel de Esquerda, jornal de debates produzido pelo mandato da deputada federal Luizianne Lins (PT-CE). De periodicidade bimestral, o jornal tem como objetivo repercutir discussões, ideias e mobilizações do campo progressista. O ato de lançamento contou com uma palestra do jornalista e professor Ronaldo Salgado (Comunicação Social – UFC), uma das mais importantes referências do ensino de jornalismo no Estado, sobre “Comunicação e Democracia”.
“O tensionamento político que o Brasil vive atualmente passa, de modo decisivo, pelo campo da comunicação. Em todas suas expressões, da publicidade às mídias sociais”, afirmou Luizianne durante o lançamento. “A comunicação é hoje palco de uma luta simbólica que tem de se espalhar e se multiplicar por outras trincheiras, por outras plataformas, por outros modos de pensar e fazer a comunicação. O nosso jornal é uma pequena tentativa nesse sentido”.
Segundo Luizianne, o cotidiano brasileiro é atravessado por uma poderosa engrenagem econômica que forma “uma vasta e onipresente rede de produção simbólica”. “Uma rede que espalha clichês mentirosos, destrói reputações e atropela princípios constitucionais de direito à imagem e ao contraditório. E que tem pesos e medidas obtusamente diferentes nas manchetes e coberturas, quando o assunto trata do governo ou da oposição”, afirmou.
Para a deputada, o jornalismo das grandes corporações, de modo mais específico, tornou-se uma das principais trincheiras de luta da oposição de direita no Brasil. “Uma oposição que, sem projetos, tem apenas o ódio e a intolerância como propostas para o País. Mas que, ainda assim, conta com o apoio incondicional da chamada grande mídia”, defendeu.
Luizianne citou os dados do Manchetômetro, website de acompanhamento diário da cobertura da política e da economia na grande mídia, produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Nas eleições de 2014, por exemplo, só na cobertura do jornal O Globo, a cada 27 matérias negativas à então candidata Dilma Rousseff, eram publicadas apenas 3 matérias negativas ao candidato Aécio Neves. Proporção que era seguida, com poucas variações nos demais veículos.
“O Brasil vive hoje um quadro muito desigual, do ponto de vista das pautas jornalísticas, no que diz respeito ao desmedido favorecimento dado a partidos como PSDB e à incansável cruzada de críticas e denúncias (muitas vezes infudadas) contra o PT, em particular”, afirmou.
Golpe midiático
Para Ronaldo Salgado, o lançamento de um jornal como o Papel de Esquerda, é “extremamente relevante” numa época de “informação volátil”, “fugaz”, em meio a uma crise de identidade do fazer jornalístico, em tempos de império da tecnocracia nos grandes veículos de comunicação. Segundo o professor, as lides jornalísticas brasileiras transformam-se em “trincheiras golpistas descaradamente escancaradas e atingindo ferozmente o coração da vida democrática”.
A estratégia é o que Ronaldo classificou como “ação e omissão”. Ora os veículos da chamada grande imprensa noticiam tendenciosamente o que a eles e às elites interessam do ponto de vista ideológico, político, econômico, cultural e socialmente falando; ora simplesmente omitem informações, notícias e reportagens que são essencialmente do interesse coletivo.
“Foi e está sendo assim nestes 13 anos de governo do Partido dos Trabalhadores. A julgar pelo que foi noticiado nesse período, nada, absolutamente, nada foi feito de bom para a maioria do povo e do próprio País”, avaliou. “Diferentemente do que aconteceu quando do governo do senhor Fernando Henrique Cardoso, que contou, numa vergonhosa relação de compadrio e acumpliciamento, mesmo ferindo, cabal e desabridamente os interesses nacionais, com os mais alentados afagos da mídia brasileira”.
Para Ronaldo, um jornal como o Papel de esquerda pode amplificar seus horizontes de atuação para além do território de um mandato político e alcance a sociedade como um todo, ajudando-a a perceber de forma mais crítica a realidade que a cerca em todos os sentidos – econômico, político, cultural, ideológico, educativo, social etc.
O professor destacou que existe no Brasil uma situação vergonhosa de propriedade cruzada dos meios de comunicação, “uma situação que, por si só, se configura como entrave a uma vida efetivamente democrática”. E afirmou que é necessária uma urgente ação governamental no sentido de rediscutir uma nova regulamentação sobre os meios de comunicação no Brasil. Sobre a imprensa escrita, que não depende de decreto governamental, Ronaldo disse que os jornais brasileiros trabalham vergonhosamente em prol da derrubada de uma governante eleita, “soberba e democraticamente pelo voto da maioria do povo brasileiro”.
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