A deputada federal Luizianne Lins (PT/CE) homenageou, nesta terça-feira, 26/10, na Câmara dos/as Deputados/as, o cantor e compositor cearense Belchior pelos seus 75 anos. A parlamentar apresentou o requerimento 2220/21 de Moção de Aplausos ao artista. E também o Projeto de Resolução (PRC) 72/21, que institui a Comenda Cultural Antônio Carlos Belchior, destinada a agraciar pessoas físicas e jurídicas que tenham oferecido contribuição relevante à promoção da música brasileira.
O PRC determina que a Comenda, acompanhada de concessão de diploma de menção honrosa, será outorgada, anualmente, a três pessoas, indicadas pela Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados. A escolha será feita pela maioria dos/as deputados/as integrantes da Comissão, a cada ano. A deputada é membro titular dessa comissão.
Luizianne protocolou também um pronunciamento com um apanhado de toda a história de vida daquele que se tornou um dos maiores poetas da palavra cantada no Brasil. Suas músicas foram e continuam sendo interpretadas por nomes de peso da MPB, como Roberto Carlos, Elis Regina e Ney Matogrosso.
Depois de decidir pelo recolhimento da vida pública, em 2007, 10 anos depois, em 30 de abril de 2017, o Brasil tomou conhecimento do falecimento do artista, na madrugada daquele dia, em Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, em consequência do rompimento da veia aorta “Do coração v geração da MPB interpretando os vários e atemporais sucessos do extraordinário trovador eletrônico Belchior”. Para Luizianne, “é todo esse percurso de vida e obra que faz o artista plástico, cantor e compositor cearense, brasileiro e cidadão do mundo Belchior merecer reconhecimento da sessão do plenário da Câmara Federal, realizada neste 26 de outubro, dia em que ele completaria 75 anos. Antônio Carlos Belchior, presente!”
Leia o pronunciamento na íntegra:
75 anos de um gênio da nossa cultura
Em um 26 de outubro, há 75 anos, nascia, em Sobral, no Interior do Ceará, Antonio Carlos Belchior, que ficaria conhecido, nacionalmente, alguns anos depois, simplesmente como Belchior. Filho do casal Dolores e Otávio, conviveu muito cedo com a alegria da música e das artes. Além dos tios boêmios, seu avô tocava sax e sua mãe cantava no coral da igreja. Consta que o menino Belchior era expectador atento de repentistas, aboiadores, ciganos e bandas de baile na sua cidade. Esse convívio influenciaria, definitivamente, toda a trajetória daquele que se tornaria um dos maiores nomes da MPB. Some-se a isso: a influência do teatro, dos sobrados, das belíssimas igrejas e edificações no estilo neoclássico, além do marcante clima cultural de Sobral, compondo a rica formação artística e intelectual de Belchior.
Mudando para Fortaleza ainda adolescente com a família, Belchior tem o tão sonhado encontro por quase todos os jovens vindos do interior: com o mar, inspiração para muitas de suas obras, dentre elas, em parceria com Raimundo Fagner, Mucuripe, regravada no início da sua carreira nacional por ninguém mais do que o rei Roberto Carlos e uma das maiores cantoras de todos os tempos do nosso país, Elis Regina.
Em Fortaleza, que lhe abriu novos horizontes, o prodígio estudou no tradicional Liceu do Ceará. Para além da educação formal, de forma autodidata, Belchior estudou e aprendeu outras línguas. Pesquisou sobre arte, literatura brasileira e universal. Escutou o melhor de todos os ritmos (já o fazia em Sobral, no serviço de autofalante da cidade), do regional ao internacional, devorou livros, frequentou cinemas e iniciou os primeiros passos na boemia da capital, retomados depois da sua rica experiência no mosteiro dos frades capuchinhos, na cidade de Guaramiranga, região serrana do Maciço do Baturité, Interior do Ceará.
No frio da serra, foi, por um período, Frei Antonio Carlos de Sobral, ofício que acabou desistindo de seguir. Mas foi lá que aprofundou sua disciplina já monástica, aprimorou os estudos em latim e outras línguas, como italiano, além de filosofia, teologia, canto gregoriano e outras músicas da melhor qualidade, incluindo Luiz Gonzaga. Apreciava bons vinhos e o ar puro do lugar, que o ajudou a compor alguns rabiscos de canções e poemas. Ser poeta era o desejo maior de Belchior. E, assim, virou um estupendo poeta da palavra cantada.
Na capital, da qual virou cidadão oficialmente em 2004, ingressou no curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), onde participou do movimento estudantil e começou a frequentar, com mais intensidade, as noites boêmias da Cidade, iniciadas no Dozinho da Gia, bar e restaurante perto do campus e, em seguida, em terras mais distantes do ambiente escolar. Foi também no Bar do Anízio, na Beira Mar, junto com Amelinha, Teti, Rodger Rogério, Fagner, Brandão, Petrucio Maia, Jorge Mello, e tantas e tantos outros que ficaram conhecidos com o Pessoal do Ceará, produzindo e participando de programas de auditório em TVs e rádios de Fortaleza, disputando festivais, que Belchior se abraçou definitivamente com a música. Ganhou o IV Festival Universitário da Canção com a música Hora do almoço, interpretada por Jorge Neri e Jorge Teles.
Seguiu então para São Paulo, com companheiras e companheiros de estradas e canções. Partia para o chamado “Sul Maravilha”, onde participou de programas de TV, fez roteiros musicais para filmes e, depois de passar fome com muita elegância, alcançou sucesso nacional com a gravação de Mucuripe, por Elis Regina e Roberto Carlos. Lançou seu primeiro LP em 1973, já com alguns sucessos que permanecem até hoje, sendo hits obrigatórios em qualquer lugar do país onde se prestigie uma música penetrante, com conteúdo, filosófica e de enorme qualidade lírica e discursiva.
Em 1976, gravou Alucinação, considerado por muitos um dos melhores discos da MPB. Participou de shows e programas de TV e rádio, virou matéria dos principais cadernos, jornais e revistas de cultura do país, inclusive do lendário Pasquim. Engajou-se na luta política pela anistia, pela redemocratização do Brasil e na campanha das Diretas Já. Tornou-se um dos artistas que mais fizeram shows em nosso país. Sempre na estrada, em todos os quadrantes e mais variados locais do território brasileiro ou no exterior. É também um dos letristas mais regravados da MPB. Nomes como Elis Regina, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Antonio Marcos, Jair Rodrigues, Ednardo, Engenheiros do Havaí, Jessé, Ney Matogrosso, Toquinho, Vanusa, Raimundo Fagner, Jorge Melo, dentre tantos outros ícones da nossa música popular, imortalizaram, em suas vozes, as canções de Belchior.
Mesmo afastado da grande mídia no período que vai do início dos anos 1990 até 2007, quando resolveu dar mais uma guinada na sua vida, Belchior nunca deixou os palcos, viagens, gravações, pinturas e caligrafias. Em uma agenda intensa de shows lotados de um público cativo, o eterno “rapaz latino-mericano”, dono de uma voz única e uma presença de palco inigualável, circulava o país incansavelmente para fazer shows, sem distinção entre uma praça pública, atos do Dia do Trabalhador e da Trabalhadora (como fez vários) ou na melhor casa de show do local.
Depois de decidir pelo recolhimento da vida pública, mesmo sendo ainda muito requisitado, Belchior desapareceu para muitos, inclusive para familiares mais próximos, no período de 2007 até o dia 30 de abril de 2017, quando o Brasil tomou conhecimento do seu falecimento, na madrugada daquele dia, em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, em consequência do rompimento da veia aorta do coração selvagem do grande poeta do nosso tempo. Hoje, temos a alegria de vermos centenas de artistas da nova geração da MPB interpretando os vários e atemporais sucessos do extraordinário trovador eletrônico Belchior, como Daíra, a banda Trovador Eletrônico, Ana Cañas e, mais recentemente, sua filha Vannick Belchior, que iniciou, recentemente, carreira artística, interpretando as canções do seu pai.
Se suas canções já eram clássicas. Com a sua morte, novas gerações passaram a conhecer verdadeiros hinos que falam de liberdade, juventude, amor, paixões, choque de gerações, imigrantes e seus dramas, condição humana etc. Uma radical e profunda obra, imortalizada em canções como Alucinação, Medo de avião, Pequeno mapa do tempo, Coração selvagem, Como nossos pais, A palo seco, Populus, Velha roupa colorida, Galos, noites e quintais, Princesa do meu lugar, Mucuripe, dentre outras tantas que, se elencadas aqui, tomariam mais da metade do espaço dessa resumida biografia. É todo esse percurso de vida e obra que faz o artista plástico, cantor e compositor cearense, brasileiro e cidadão do mundo Belchior merecer reconhecimento da sessão do plenário da Câmara Federal, realizada neste 26 de outubro, dia em que ele completaria 75 anos. Antônio Carlos Belchior, presente!