Luizianne Lins
Deputada federal (PT/CE
Os sombrios impactos da pandemia na economia e no emprego se confirmaram em 2020: queda do PIB de -4,1% e taxa de desemprego de 13,5%. Em janeiro de 2021, o IBGE contabilizou 14,3 milhões de desempregados no Brasil. A falta de planejamento do governo Bolsonaro para deter a “gripezinha” tornaram mais remoto o cenário de recuperação do mercado de trabalho em 2021.

Os trabalhadores são as maiores vítimas da crise. Fragilizados pela destruição da CLT, desamparados pela reforma da previdência e, agora, acossados pelo desemprego em meio à pandemia de Covid-19. Foram menos 3,9 milhões de trabalhadores com carteira assinada no setor privado, em janeiro de 2021, o que mantém o mercado informal como a principal estratégia de sobrevivência dos trabalhadores. Uma situação social desesperadora, que mostra a fragilidade da vida dos milhões de brasileiros que sobrevivem na informalidade e se expõem à contaminação devido à falta de uma renda mínima assegurada. Milhões de brasileiros expostos àquela morte Severina de que fala o poema de João Cabral de Melo Neto: “(…) de fome um pouco por dia (de fraqueza e de doença, é que a morte Severina ataca em qualquer idade, e até gente não nascida)”.
Nessa conjuntura infernal, as velhas desigualdades foram acentuadas: mulheres, jovens e pessoas pretas foram mais atingidas. As mulheres estão sobrecarregadas com os cuidados familiares: trabalho fundamental, mas ainda não reconhecido pela sociedade. O IBGE estima que, em 2019, as mulheres dedicaram, em média, 21,4 horas semanais aos cuidados de pessoas e afazeres domésticos contra 11 horas dos homens. Essa carga tem aumentado e está associada à discriminação no mercado de trabalho. A PNAD mostra que a ocupação de mulheres de 25 a 49 anos com crianças de até três anos em casa é de 54,6%, enquanto o das que vivem em domicílios sem crianças nessa faixa etária é de 67,2%.
Vale lembrar que, no Brasil, milhões de mulheres ainda ganham apenas 77,7% do rendimento dos homens. Se o melhor indicador de desenvolvimento de uma sociedade é a forma como vivem as mulheres, então, nosso país está atolando no lamaçal do atraso.
Por isso as políticas públicas de proteção à vida e à saúde dos trabalhadores são fundamentais para reduzir as desigualdades e criar oportunidades no mercado de trabalho. Não podemos aceitar o falso dilema “saúde ou trabalho”. Isso é parte da farsa do governo Bolsonaro para ocultar a combinação de incompetência e crueldade que vem ceifando vidas e ocupações.